terça-feira, 19 de outubro de 2010

O Prestígio do Professor

Você sabe quando é prestigiado profissionalmente? Bem, se você é professor como eu deve saber que não somos assim uma classe muito prestigiada na sociedade brasileira, até me arriscaria afirmar que a sociedade nos vê como um certo desprezo, afinal, no mundo do trabalho capitalista o que vale é dinheiro, ou seja, quanto eu pago a você revela a proporção do seu prestígio e importância para a sociedade. Mas não escrevo para lamuriar a nossa mísera salarial, o faço para dividir algo que por muito tempo tem me chamado a atenção, como a palavra professor cabe na boca de qualquer um, como qualquer sujeito se arroga ser chamado de professor, como se fosse a coisa mais simples do mundo ser professor.
O melhor exemplo é você ouvir quase todos os dias alguém chamando Vanderlei Luxemburgo, Dunga, Murici, Mano Menezes de professor, dos jogadores a imprensa esportiva burra todos estes senhores são alcunhados de professores, sem nenhum constrangimento, sem nenhum remorso conosco, legítimos representantes da classe.
É terrível ouvir estes técnicos falando, peripécias linguística, metáforas de gosto duvidoso e sintaxe alopradas postos em raciocínios por vezes incompreensíveis e com bordões e vícios de linguagem, do tipo: "com certeza" ou "a fizemos a lição de casa" por sinal algo muito apropriado para quem no professor o seu chefe. E diga-se muitos contribuindo para o anedotário nacional com as suas elipses gramaticais. 
Eu gosto de futebol, mas queria ser viver em um país no qual ser professor não fosse objeto de chacota, sim, porque só um debochado pode imaginar Luxemburgo ou Dunga como exemplos públicos de professores. Queria poder viver em uma sociedade na qual ser professor não fosse uma ocupação mas um profissão respeitável. Queria poder ser tratado como se tratam os bons profissionais em uma nação séria, com respeito, e que ninguém se arrogasse a ser aquilo que não é qualificado para ser. Queria que ser professor fosse exemplo de dignidade intelectual e não de indigência moral como somos tratados, enfim, gostaria de ser tratado como professor, não para ganhar o que os dungas ou manos ganham, mas para ser respeitado como cidadão.

sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perplexista Dinâmico

Eu, como todos os cidadãos deste país, acompanho o desenrolar da campanha eleitoral presidencial, e depois de quase três meses de campanha, um primeiro turno quase morto, não fosse o glorioso Plínio de Arruda nos brindando com seu humor e inquietações provavelmente  nem passaria perto da discussões acerca dos candidatos.
Evidente que não posso deixar de citar Wéééssslian Roriz, esta figura ímpar, única, uma dona de casa alçada a condição de candidata, para servir de escudo para uma marido muito suspeito, e suas tiradas fantásticas que trouxeram uma dose de humor negro para a campanha, mas como não sou eleitor em Brasília, apenas me divirto com o magnífico da lógica de Wééééssslian.
Em meio a este segundo turno, cercado de todo tipo de absurdos e ignomínias me vejo diante do dever de escolher um candidato, alguém que possa ser meu presidente, e ao menos, seja digno do meu voto, mas por mais que tente não consigo, a cada dia aparece uma nova tirada sem graça e sem sentido de um dos nobres candidatos.
Evidente que esta dúvida me angustia, e ao menos no âmbito privado, traz acalorados debates, e cobranças também, foi em meio a esta angústia que me lembrei de um grande professor que tive na PUC de São Paulo, eu era ouvinte na sua disciplina de introdução ao jornalismo, e em uma das suas aulas ele contou que havia sido preso nos anos 1960 durante a ditadura e diante do delegado feroz que afirmava indignado, ser ele um comunista católico, ou um católico comunista, e exigia uma explicação, afinal para o delegado ali sim havia uma profunda contradição, ou um subversivo crente, o professor, virou-se para ele e disse, "olha, na verdade eu sou um perplexista dinâmico, ou seja, eu contemplo tudo, especulo e reflito sobre tudo mas apenas me sinto perplexo diante das coisas, afinal o mundo das ideias é tão maravilhosos e  eu apenas me encanto com elas."
Conhecendo bem a capacidade discursiva, o fascínio e o prazer que nos dava ouvir o professor, ficamos todos imaginando como deve ter ficado o delegado em um misto de fascinação e confusão com a retórica do nosso professor. Não foi por outra razão que o delegado o mandou para casa sem saber ao certo se havia interrogado um comunista, um católico, um grande professor ou apenas um homem cheio de dúvidas, do qual ele teve o privilégio de ser interlocutor.,
Neste momento eu me sinto como este meu grande professor, um perplexista dinâmico, incapaz de decidir, e diga-se sou perplexista por ter diante de mim dois candidatos medíocres e não dois virtuosos, presos a pequenez das coisas e não as grandes questões nacionais, como meu professor, prefiro me manter contemplando o maravilhoso a ter que tomar partido no horror, os politizados me chamaram de alienado, os engajados de omisso, minha consciência reverbera apenas que sou um perplexista dinâmico.