terça-feira, 26 de julho de 2011

Do Detran a Santiago do Chile



Sai de férias e na volta me deparei com uma notícia muito interessante, muitos candidatos á prova do Detran, para obtenção da carteira de motorista reclamavam da sua dificuldade, o que causa um grande número de reprovações e atrasa o sonho da maioria de sair dirigindo pelas ruas e estradas brasileiras.
O jornalista perspicaz ao invés de questionar a prova saiu á rua oferecendo a prova para as pessoas e perguntando, “você entendeu o que leu?” e a resposta, via de regra era “não” ou, respondia outra coisa totalmente diferente daquilo que havia sido perguntado na questão. Fica evidente aquilo que as avaliações nacionais e internacionais já constatam á tempos, a maioria dos nossos cidadãos alfabetizados é capaz de ler, mas, são incapazes de interpretar o que lêem.
Esta deficiência acaba se refletindo em uma série de outras indagações que me assolaram nas minhas férias; Passei por Santiago do Chile e sinceramente em alguns momentos senti vergonha, muita vergonha de ser brasileiro, sentimento este compartilhado por minha filha caçula de 12 anos.
Santiago é uma cidade fantástica, plana, com um plano urbano muito bem elaborado no qual o visitante pode caminhar por todos os lados cercado por uma arquitetura criativa e inventiva na qual o olhar se perde por entre a beleza sutil que se apresenta nos detalhes das fachadas ou no simples recorte de telhados, praças e edifícios públicos. E se não bastasse esta graça estética a Cordilheira dos Andes avança sobre a cidade criando um cenário de cartão postal no entorno da cidade.
A despeito da beleza de Santiago e de sua leveza estética, suas ruas e lojas estão lotadas de brasileiros, a combinação de vários fatores como, um país com impostos baixos – o Chile- uma moeda mais forte – o Brasil- uma profusão de produtos de boa qualidade a preços excelentes – o Chile- uma nação que aos poucos aumenta a sua classe média – o Brasil- transformaram Santiago em um paraíso para as compras de brasileiros.
O problema, como bem disse o motorista que me levava do hotel ao aeroporto, é que “os brasileiros se sentem em casa aqui no Chile.” E isto não é apenas uma força de expressão, presenciei cenas deploráveis nos dias em que lá fiquei, mas quem sabe a mais grave é o desrespeito dos nossos patrícios com os locais, pois não importa onde, seja na loja, no hotel, no metro, no restaurante, seja onde for com que for se insiste m falar português com os chilenos e pior, na maioria dos casos se ficava irritado com o cidadão local que muitas vezes não sabia ao certo o que o turista incauto desejava. Curiosamente a medida que o chileno não compreendia o português, o brasileiro acabava aumentando o tom de voz, como se a altura do tom pudesse facilitar a compreensão, ao que me conste, falantes do castelhano não se tornam capazes de entender o português apenas pelo nível de decibéis empregados pelo sujeito, isto todos deveriam saber, pois se assim fosse, todo ouvinte de rock metal seria fluente de inglês.
Mas estar em casa é também se por a vontade, no lobby do hotel no qual estava hospedado, uma moça tirou os sapatos deitou em um dos sofás e simplesmente colocou os pés nus sobre o braço do sofá, enquanto seu filho ou irmão corria pelo lobby ameaçando a decoração e o pessoal do hotel atrás do infante tentando conte-lo, enquanto a mãe relaxava no sofá.
Isto se associa ao uso de palavras de baixíssimo calão ditas a tordo e a direito em locais públicos, assim como se ninguém estivesse ali e pudesse ouvir e se constranger. Os chilenos são calmos e educados, presenciei cenas na qual haveria um chamado “barraco” em locais públicos lotados, mas as pessoas se comportavam solícitas e pacientes sem aumentar o tom de voz ou fazer uso de qualquer ato de agressividade, coisas tão comuns entre nós.
Os chilenos também são acercados por comediantes que vez por outra tomam o poder e saem a dizer estultices que envergonham o país, o presidente Piñera, enfiado em uma revolta estudantil contra a sua reforma educacional que fará diminuir subsídios e aumentar o custo do ensino universitário se saiu com esta, “educação é um bem de consumo.” Foi achincalhado e ironizado por todos, recebendo uma saraivada de críticas, potencializando os protestos que tomavam conta da cidade. E os estudantes não estavam para brincadeira, foram para cima da polícia e não deixaram de protestar durante todos os dias em que lá estive, parece que para estes chilenos educação é uma coisa importante.
O pessoal nas calçadas de Curitiba tentando desvendar os mistérios da prova do Detran diante do olhar quase cômico do jornalista, não entenderiam, o que significa educação como bem de consumo, assim como os nossos compatriotas, elevados a condição de classe média consumista a invadir um pequeno país de língua castelhana e tomar com seus dólares e reais: hotéis, bares, ruas, taxis, pistas de esqui e tudo que esteja disponível e possa ser comprado não entendem, ao menos uma parte deles, o que seja visitar e estar na casa de alguém, respeitassem hábitos, costumes, língua e ouvidos. Um pouco mais de educação não faria mal a ninguém.

sexta-feira, 8 de julho de 2011

Escola. Precisamos de mais?

Se existe uma coisa que só os humanos podem se orgulhar de ter é criatividade, um quê de inventividade diante das agruras da realidade tão dura e monótona nos afligindo todos os dias, e haja criatividade para se superar o cotidiano, o muito do mesmo sempre. O bom é que podemos e devemos educar e exercitar esta qualidade tão humana, e o que esperamos é ver na escola esta parte rica, lúdica dos seres humanos potencializada ao máximo.
Todo sujeito criativo é também alguém de imaginação sem igual, Newton, Einstein, Pasteur, Mendel seriam tantos que poderíamos citar um milhar de sujeitos, afinal, a ciência, assim como todas as atividades humanas, são objetos nascidos de homens criativos e ricos em imaginação, a hipótese científica é em verdade uma criação imaginada e construída no pensar de um homem de grande criatividade.
A educação formal, regular a qual todas as crianças e  adolescentes estão submetidos compulsoriamente é por definição um lugar, ao menos aqui nos trópicos, uma coisa chata, muito chata, nas suas rotinas, nas suas práticas de aprendizagem e ensino, um cotidiano maçante no qual os alunos e mesmo os professores são submetidos a uma série de pré requisitos invariavelmente destituídos de qualquer elam de criatividade e imaginação.
Na proporção inversa que a sociedade e a ciência avançam dia-a-dia e a passos largos com criações cada vez mais inovadoras e criativas, novos aparelhos com a múltipla convergência de mídias e instrumentos em meios atraentes e estimulantes a curiosidade. A escola, em contrapartida, continua no mesmo lugar enfadando a vida de alunos e professores.
Do jeito que o meu avô, meu pai, eu e meu filho estudou, meus netos estudarão, sentados em fila indiana em uma sala em colunas na qual seguem a frente um indivíduo a repetir coisas, e entre o aluno e professor um livro didático entristecido, cabendo ao aluno depositar todas as suas necessidades de aprendizagem, em um ir e vir mediatizado em meios que a cada dia se tornam mais obsoletos, ao menos aos olhos dos alunos.
Nos últimos cem anos por mais que me esforce não consigo ver o que foi incorporado de novo à escola para que ela se tornasse um lugar criativo e criador, um espaço mais lúdico e menos enfadado pelas repetições. Sem grande trabalho vemos que o livro didático ficou mais colorido, a TV cumpri uma função terapêutica para algumas disciplinas e o PC, assim como o data show e a lousa interativa apenas foram postas a serviço de uma maior eficácia, bastante questionável, diga-se de passagem, da vida em sala de aula. Em resumo, não consigo ver na escola mudanças substanciais que a tornem outra coisa senão ela mesma, como uma senhora enrugada de seios flácidos, pálpebras caídas e nádegas repletas de estrias e celulite, logo após um série de cirurgias plásticas parece melhor, mas continua um velha senhora, incapaz de fazer frente a uma jovem de dezenove anos.
Em terra de analfabetos, somos 15% da população com mais de 15 anos e mais 43% de analfabetos funcionais, que mal conseguem ler e entender uma manchete de jornal ou um bilhete, assim quem tem o mínimo de qualificação se sente rei, ou seja, lutamos para ter uma escola que ensine a ler e escrever, e consiga cumprir seu papel social, minimamente, o que já faria feliz nove entre dez brasileiros, mas para quem vive de educação isto é pouco, é quase nada.
Gostaria de imaginar uma sociedade empenhada em pensar e criar uma escola criativa, estimulante e diferente do que temos hoje, na qual os alunos, assim como os professores pudessem ser criadores e não meras criaturas escravizadas por livros e materiais apostilados medíocres que ensinam um punhado de tolices, que hoje, sem grande  esforço, se pode saber usando os diversos recursos de mídia disponível. Até quando ficaremos vendo a escola envelhecer sem nos interpor exigindo algo criativo de verdade, algo que use e abuse da ludicidade infantil e adolescente? A escola esta desconectada da vida real, ensimesmada ela sequer consegue se libertar dos seus arcaimos e ranços, como dizia um grande professor que tive, se São Tomas de Aquino pudesse voltar hoje a única instituição que ele reconheceria e saberia o que é seria a escola. Precisamos de mais?