sexta-feira, 15 de outubro de 2010

Perplexista Dinâmico

Eu, como todos os cidadãos deste país, acompanho o desenrolar da campanha eleitoral presidencial, e depois de quase três meses de campanha, um primeiro turno quase morto, não fosse o glorioso Plínio de Arruda nos brindando com seu humor e inquietações provavelmente  nem passaria perto da discussões acerca dos candidatos.
Evidente que não posso deixar de citar Wéééssslian Roriz, esta figura ímpar, única, uma dona de casa alçada a condição de candidata, para servir de escudo para uma marido muito suspeito, e suas tiradas fantásticas que trouxeram uma dose de humor negro para a campanha, mas como não sou eleitor em Brasília, apenas me divirto com o magnífico da lógica de Wééééssslian.
Em meio a este segundo turno, cercado de todo tipo de absurdos e ignomínias me vejo diante do dever de escolher um candidato, alguém que possa ser meu presidente, e ao menos, seja digno do meu voto, mas por mais que tente não consigo, a cada dia aparece uma nova tirada sem graça e sem sentido de um dos nobres candidatos.
Evidente que esta dúvida me angustia, e ao menos no âmbito privado, traz acalorados debates, e cobranças também, foi em meio a esta angústia que me lembrei de um grande professor que tive na PUC de São Paulo, eu era ouvinte na sua disciplina de introdução ao jornalismo, e em uma das suas aulas ele contou que havia sido preso nos anos 1960 durante a ditadura e diante do delegado feroz que afirmava indignado, ser ele um comunista católico, ou um católico comunista, e exigia uma explicação, afinal para o delegado ali sim havia uma profunda contradição, ou um subversivo crente, o professor, virou-se para ele e disse, "olha, na verdade eu sou um perplexista dinâmico, ou seja, eu contemplo tudo, especulo e reflito sobre tudo mas apenas me sinto perplexo diante das coisas, afinal o mundo das ideias é tão maravilhosos e  eu apenas me encanto com elas."
Conhecendo bem a capacidade discursiva, o fascínio e o prazer que nos dava ouvir o professor, ficamos todos imaginando como deve ter ficado o delegado em um misto de fascinação e confusão com a retórica do nosso professor. Não foi por outra razão que o delegado o mandou para casa sem saber ao certo se havia interrogado um comunista, um católico, um grande professor ou apenas um homem cheio de dúvidas, do qual ele teve o privilégio de ser interlocutor.,
Neste momento eu me sinto como este meu grande professor, um perplexista dinâmico, incapaz de decidir, e diga-se sou perplexista por ter diante de mim dois candidatos medíocres e não dois virtuosos, presos a pequenez das coisas e não as grandes questões nacionais, como meu professor, prefiro me manter contemplando o maravilhoso a ter que tomar partido no horror, os politizados me chamaram de alienado, os engajados de omisso, minha consciência reverbera apenas que sou um perplexista dinâmico.

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