sexta-feira, 1 de abril de 2011

PERDOAR




Ao tratar de um tema como este pode parecer que nos remeteremo à uma questão religiosa, porém eu não sou religioso ou teólogo para conduzir um texto nesta direção. A minha reflexão se pauta na nossa condição humana e na nossa herança cultural.

Somos sujeitos, homens e mulheres herdeiros de uma civilização baseada no perdão como elo elementar que nos une ao divino e ao outro que está ao nosso lado. A idéia mais simples do perdão é o ato de oferecer ao outro o esquecimento como forma de restabelecer laços, superar diferenças ou simplesmente reatar vínculos de afeto perdido.
Por trás desta idéia há o convencimento de que ao invés de alimentarmos o ódio e a dor corrosiva e lancinante, possamos encontrar dentro de nós um significado para a palavra paz; e todos os seres humanos sabem o quão difícil é, ao menos às vezes, encontrar esta paz para bem viver.
Em verdade, o perdão que conduz a um estado de paz é algo capaz de levar-nos a um estado de felicidade, sim, pois o perdão, seja ele ofertado a nós por alguém, sejamos nós a dá-lo a alguém, almeja-se um pretensioso estado de felicidade.
Entendo que nossa cultura plantou o perdão entre nós para nos dar a chance de superar o desejo do ódio, da raiva que leva a “guerra”, ao conflito, pois ódios e raivas são molas propulsoras eficientes na geração de rancores e mágoas na construção de falas e dizeres que muitas vezes servem apenas para deixar naquele que diz alivio e aquele que ouve sofrimento.
Perdoar é um ato de generosidade consigo e com o outro, mas também, um ato de esquecimento; e saber esquecer, o quê e como esquecer, é tão ou mais importante do que lembrar, a memória é em si, esquecimento e, ao operarmos a memória como imaginação ao recompormos o passado, recente ou remoto. Curiosamente a memória das dores, dos ódios parece sempre estar intacta, preservada sem nenhum lastro do imaginário, fundado na forte convicção de ser a memória algo límpido. As alegrias, os momentos de pura felicidade sempre vêm turvados prazerosamente pela imaginação, repleta de meandros e possibilidades muitas vezes esquecidas.
Quando não queremos esquecer, de fato não esquecemos, porém ao perseverar a lembrança dolorosa somos compelidos ao sofrimento, ao rancor, o passado se torna presente e incômodo, e a memória um fardo, o perdão, só ele pode aliviar este peso. Se não podemos esquecer a dor, e parece ser esta uma das características mais humanas, podemos nos esforçar para dar fim ao rancor e ao ódio e a tristeza que o abarca, perdoando.
Perdoar é ato de bondade conosco e de generosidade com o outro, pois se não podemos esquecer, o perdão permite a todos a chance, sim o perdão é a  chance de sermos mais dignos e mais humanos, ao dar a nós a oportunidade do esquecimento, e dar bondosamente dividir a paz com o outro.
Se fácil fosse perdoar, mais fácil ainda seria amar, e ambas são tarefas que somente o humano pode aprender e ensinar se quisermos podemos educar para o perdão basta querer lembra-se da razão que nos faz existir.

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