quarta-feira, 8 de junho de 2011

A Ética do Cínico


Em sociedades mais equilibradas e civilizadas, não gosto da palavra desenvolvida ela remete a uma idéia de progresso e avanço técnico e tecnológico que necessariamente não condizem com a condição civilizatória da sociedade, e os norte-americanos são um bom exemplo deste anacronismo, a riqueza e o poderio técnico não faz dos Estados Unidos um lugar desprovido de barbarismos e crises sociais graves, recheadas de violências, segregação e preconceito.
Mas, o que me incomoda é a condição de ser brasileiro, de ser cidadão e o quanto somos impelidos cotidianamente a nos tornarmos cínicos. O cinismo é o contrário do ético, explico, um sujeito ético tem preceitos, princípios e valores claros que norteiam sua vida. Ser ético é fazer das pequenas ou grandes coisas do dia-a-dia algo simples, se paro no semáforo o faço não por temor do guarda escondido atrás de um poste pronto a multar, mas sim, porque sei que é meu dever e por respeito ao pedestre e aos outros motoristas, simples assim, não se age por temor, ou mesmo obrigação, se age pela convicção de se estar fazendo o certo, nada mais.
O cínico passa o semáforo porque ele tem compromissos inadiáveis, porque a sua  pressa é mais pressa que a de qualquer outro, o cínico justifica seus atos com argumentos sempre descabidos e imorais, bem dito que o descabido e imoral é para quem ouve, porque para o cínico tudo se explica dentro da sua lógica simplória, do sempre foi assim, ou se eu não fizer o outro fará.
A questão é que todos os dias somos convidados a não sermos éticos com coisa alguma em nossa vida, e pior, somos açoitados por exemplos e mais exemplos de barbarismos, violências e atos de usurpação do poder no limite do que se possa compreender como razoável.
As conseqüências de se viver em uma sociedade de espertos, de malandros e bárbaros é nos transformarmos em cínicos confessos, e os cínicos são aqueles que ao invés de se indignarem, apenas dão de ombros como quem atesta que isto não tem nada a ver comigo, isto é problema dos outros, ou se fosse comigo eu faria o mesmo.
Os males que acompanham a transformação do ético em cínico é achar, entender e explicar o mal como algo normal, aceitável, quando em verdade nada que esteja fora da compreensão e razoabilidade do civilizado pode ser aceito ou tomado como normal, ao nos comportarmos assim, apenas e tão somente nos fazemos cínicos empedernidos.
Os cínicos vêm tudo sob uma ótica particular, própria, pois nada está de fato fora do lugar, tudo parece tolerável, todo cínico é por convicção leviano, ao menos com a realidade ele o é, “porque afinal tudo é como é. É assim mesmo.” É esta a ética do cínico.
O cínico é oportunista, ele se põe diante das situações preparado para tirar proveito, desconhece pudores morais, abstrai qualquer questão de consciência, o cínico não precisa de autorização para agir, ele faz para si e só para si, se assim o convier, para o cínico, o outro não existe, somos uma nação pródiga neste fenômeno, os cínicos parecem brotar na vida social por geração espontânea e ser ético parece a cada dia algo destituído de sentido e significado.
A nossa necessidade civilizadora e civilizatória precisa ser educada, sem o que, ficaremos ainda por gerações e gerações debatendo e nos debatendo não sobre o óbvio, mas sobre o inaceitável, que o digam os nossos homens públicos, as celebridades, os policiais, os banqueiros, os fiscais,..

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