quinta-feira, 18 de agosto de 2011

A Graça de Saber Viajar


A maioria de nós acredita que quanto mais igual e parecido somos com alguém, com uma cultura, com um gosto, mais e melhor se tornam as coisas para nós, pois, partimos da premissa, errada e equivocada que pela semelhança nos fazemos melhor.
Em verdade nós gostamos daquilo que é parecido conosco por nos colocar em uma zona de conforto na qual somos impelidos a crer ser tudo mais tranqüilo e aceitável, de tudo tal raciocínio não é falso, nada como estar rodeados por ações, discursos e idéias pertinentes a tudo aquilo que acreditamos, o problema é que, via de regra, isto não estimula ou educada as pessoas.
Imagine uma pessoa que se aventure em fazer uma viagem por um país distante, e nele encontre toda sorte de novidades e diferenças nunca antes imaginadas, dos hábitos á mesa, passando pelas relações de gênero e chegando a concepção de vida e morte. Se o nosso viajante for alguém rígido, dificilmente entenderá como e por que aquelas pessoas assim se comportam, e ao invés de tirar da viagem o prazer estimulante do novo, do diferente, irá se repugnar  de ter passado por tais lugares e ter gasto seu tempo e dinheiro em tal aventura.
O simplório acredita ser o diferente uma afronta a si e aos seus valores, as suas convicções, e dele nada pode tirar senão a repulsa, a indignação e um punhado de reflexões exageradas. Se imaginarmos que ao viajar somos compelidos a uma aula, a uma grande experiência estimuladora das mais diversas possibilidades ofertadas pela realidade, o simplório transforma a aula em exercício de negação intelectual e moral e o proveito educacional se perde em meio a ilações preconceituosas e auto-referentes de si mesmo.
A educação, seu currículo e suas práticas de aprendizagem deveriam muitas vezes se portar como uma viagem, uma experiência de diferenciação e de estimulação no qual as múltiplas possibilidades elencadas pelo conhecimento, pelo novo, servissem de meio para que, primeiro os professores e depois os alunos pudessem se embrenhar, tomados pela curiosidade, pelo (des)conhecido, e nele pudessem experienciar novas formas de se aprender.
O professor na maioria das vezes se comporta como um viajante conservador, todas as vezes que se busca inovar, pensar formas e meios novos de aprendizagem e novos currículos, tudo parece um desalento, um deslocamento para lugar de puro estranhamento. Quando o professor aterrissa em uma sala de aula espera sempre encontrar a mesma paisagem, os mesmos hábitos e as mesmas relações consagradas, quando muito a maioria dos professores aceita um clima mais quente ou mais frio, mas, nada, além disso.
Da sua parte, os alunos, são como os estrangeiros visitados pelo viajante, sim porque a escola é em si o lugar do aluno, seu meio e fim último, como visitados os alunos se vêem hora acolhido e compreendido pelo viajante estrangeiro, hora com profunda repulsa por aquele ser estranho ocupante de uma posição privilegiada, por uma questão de força o professor impõe-se diante dos alunos e cabe a eles se adaptarem ao seu olhar, e a sua leitura da realidade.
A escola não parece ser o melhor lugar para se afirmar que as diferenças são estimulantes para se produzir conhecimento,  novos saberes e despertar a curiosidade, um lugar no qual se desassossega o sujeito, a escola, tendo o professor como seu principal ator, não parece ser capaz de empreender viagens maiores do que aquelas na qual tudo se harmonize com as verdades sabidas a priori, pior para escola, pior para os alunos, pior para a sociedade. 

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