sexta-feira, 7 de outubro de 2011

Previsibilidade é Tudo que Queremos


Todo brasileiro, homem ou mulher com mais de trinta anos assim como eu terá mais facilidade em entender o que vou escrever neste blog. Sou de uma geração que nasceu, cresceu e chegou á vida adulta sem saber o que era uma vida previsível, ou seja, conhecíamos apenas o  presente, e mesmo assim precária e porcamente. Cresci em meio a uma inflação e uma crise econômica constante e ininterrupta por mais de trinta anos, quem viveu estes dias, meses, anos e décadas no Brasil entende o que digo, não havia futuro, pois as pessoas que viviam do seu trabalho sabiam apenas que hoje daria para comprar comida em determinada quantidade ou mesmo uma roupa ou um calçado, amanhã o dinheiro ganho com o suor do rosto não conseguiria pagar por aquilo que precisávamos, o valor do trabalho e das coisas inexistia.

O futuro era uma incógnita, uma aposta, pois se vivia em uma gangorra esperando que novo plano seria inventado para regular nossas vidas, lembro-me das vésperas do Plano Collor, a loucura das pessoas meio atônitas nas ruas no centro de São Paulo, entre a sete de abril e conselheiro Crispiniano, o Mappin e em outras grandes lojas os preços mudavam a cada três horas, e nada parecia fazer sentido, um frenesi meio apocalíptico que deu naquilo que todos sabemos, um plano maluco e um governo corrupto.
Em verdade este não é um texto das minhas memórias de juventude, é que refletindo sobre o crescimento de meus filhos e o como eles vivem hoje, me dei conta de como a vida ficou melhor, mais digna, menos imprevisível, e não é isto o que no fundo todos nós desejamos? A despeito de uma meia dúzia de certezas todas elas pouco felizes, a vida é um necessário caminhar pela rotina, pelo previsível.
Ouvir as pessoas no cotidiano faz crer que a maioria delas nega o quão feliz são em suas rotinas, na repetição de seu dia-a-dia,  quando no fundo o que a maioria deseja é uma vida previsível, não no sentido de saber o que será feito da rotina diária, mas sim, previsível por saber o quão possível a vida pode ser planejada, ordenada e pensada como algo posto sob o meu domínio. Os céticos dirão ser um enfado tal situação, pois bem, visite um país em guerra, uma nação que viva em hiperinflação e você irá entender de qual previsibilidade se trata aqui, mesmo em casos de desastres naturais, quando milhares ficam desabrigados ou impedidos de retornar as suas casas, o abatimento e a tristeza se apresentam por destituir a vida de um continum essencial.
As tragédias naturais ou as guerras são evidentes na transformação do previsível em imprevisível. Uma existência em descontínuo produz nos seres humanos o afloramento dos instintos mais básicos, o bom e velho Darwin sabia o que dizia quando traçou a evolução e as emoções humanas, sem poder pensar no amanhã como algo previsível, as nossas emoções e pensamentos comportam com insegurança, e me permito uma ilação, quando olho sociedades do terceiro mundo ou comunidades pobres em sociedades muito ricas parece evidente a propensão a violência. Sem a previsibilidade a vida cotidiana e o futuro, tudo se torna um presente eterno, desregrado e alimentado por ações que tem como único fim suprir o imediato. Não é preciso entrar em uma favela tomada por traficantes, em um grande centro urbano, para saber que aqueles que se acercam do negócio das drogas e todos que estão a sua volta resumem a existência a um presente sufocante, nada vai além do tempo que se vivi. A percepção de uma vida sintetizada em um presente contínuo demanda de cada sujeito o fim de qualquer previsibilidade, a vida é feita aqui e agora, nada mais desumano, nada mais infleiz.
Se não pudermos ter garantias mínimas de previsibilidade da vida, de quando poderemos casar, ter filho, passear, aposentar, comprar um velho objeto de desejo o que restará? A sensação de que a vida é um estado de permanente presente do qual se vive hoje para não haver amanhã, isto quase transformou gerações inteiras no Brasil em cínicos, pessimistas, com a existência e propensos a um estado de violência, se não física, uma violência emocional da qual estar vivo era o maior fardo.

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