terça-feira, 3 de abril de 2012

ESCREVER



Por mais de um mês não escrevi nada no blog, queria na verdade fazê-lo, mas de verdade, não tinha o tesão necessário para sentar e produzir alguma coisa digna de ser lida por alguém. Todas as vezes que isto acontece me lembro de Fernando Pessoa e seu ode a preguiça, a sua indiferença com o desejo de escrever, quando a indolência se faz prevalente.
No fundo queria eu viver só de ler e escrever, não que não goste do que faço, dirigir uma escola, me divirte um tanto, gosto das pessoas e das rotinas, e isto me trás conforto financeiro e material. Queria ter nascido Machado, ou quem sabe Dostoievsky, mas não, nasci Dante, não tenho o gênio da escrita e creio ser ainda meio alfabetizado, restando um tanto de qualquer coisa para eu ser alguém que saiba escrever.
Ao menos consigo ler compulsivamente, o problema é não ter um projeto de escrita definido, claro, preciso e tempo para executar, isto nos transforma em um errante da leitura, um livro por semana e um sofá parecem bastar aliviar a minha impossibilidade de pelejar com a escrita. Ler é algo tão prazeroso que vou das teses antropológicas de L. Dumont sobre o sistema de casta indiano, á estudos históricos sobre as descobertas portuguesas nos séculos XV e XVI, sem deixar de lado a literatura. No último ano leio Lobo Antunes, uma literatura intensa e com certo grau de dificuldade, mas extremamente gratificante, onde as palavras escolhem o escritor e não ele a elas.
Recomendaria o Cus dos Judas e Memória de Elefante, para quem gosta de ler e tem paciência com as palavras um deleite.
Queria poder viver de escrever, mas não vivo, por falta de talento, por falta de tempo, por falta de mim mesmo, deveria saber escrever melhor, mas não o faço, deveria até escrever sobre aquilo que é minha vida profissional, educação, mas no fundo acabo desistindo, tudo às vezes parece muito enfadonho, chato mesmo, então, por que escrever?
Estou esperando a aposentadoria, tenho uma tese desde a adolescência, o sentido de estar vivo é ter uma dezena de livros na estante que ainda não foram lidos, até hoje, mantenho tal prática, quem sabe lá na velhice, eu aumente o número para vinte livros, poderia citar alguns que aguardam desde os meus vinte anos para serem lidos, A Montanha Mágica de Mann e O homem sem Qualidades de Musil. Quem sabe lá no futuro, com o tempo contando contra mim, eu consiga ser melhor escrivinhador, sim, e não escritor, produzir mais ricamente e com menos desculpas. Isto posto, não fantasio que seria eu um Saramago, que na maturidade se apresentou com grande escritor, quero mesmo um sofá maior, mais confortável e uma pilha de livros que me façam capaz de sentir o deleite ao mesmo tempo me movendo para a escrita. Ideias não me faltam, preciso sim de toda preguiça do mundo para ser produtivo.

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