quarta-feira, 16 de maio de 2012

O Banqueiro e Carlos Fuentes



Há uns quatro anos atrás fui trabalhar fora de São Paulo, para a família de um banqueiro, era um banqueiro local, alguém provinciano e pequeno em comparação com um Setúbal ou um Amador Bueno, mas como todo bom sujeito provinciano era pretensioso e arrogante.
A arrogância era fruto da sua riqueza, da posição que ele e a família ocupavam na cidade e na comunidade local, em verdade eu poderia ter sido poupado de ter conhecido tal figura, mas a pessoa que me contratou exigiu que eu conhecesse o gênio financeiro da família, e não tive escolha.
Com a pompa de quem pensa ser um Rockfeller ou um JP Morgan, o banqueiro me recebeu em uma sala escura decorada com certo bom gosto, mas verdadeiramente soturna, não havia janela ou qualquer coisa que remetesse a ideia de se estar um edifício ou lugar algum, parecia lugar nenhum.
O banqueiro me recebeu ao lado de seu familiar e de pronto me alertou, “não sou um homem de palavras, sou um homem que acredita em ação” e continuou, sabendo que falava com um professor, como quem alerta e ao mesmo tempo busca orientar pelo justo e reto caminho da verdade, que de certo me conduziria á plagas mais paradisíacas do que aquelas em que sempre vivi, “gente que fala e pensa muito não serve, eu mesmo já li muito, e odeio estes escritores que ficam fazendo a louvação das palavras.”
É certo que eu estava um tanto enjoado, para não dizer contrariado de ficar ouvindo o tal banqueiro, e para minha surpresa ele disse, “eu acabei de ler um livro, (havia ganhado de aniversário de algum desavisado) um tal de Carlos Fuentes, ( o livro era Este é meu Credo por mais que tentasse não conseguia lembrar o título, e eu fiquei chutando alguns títulos até ele se lembrar)  o camarada faz uma apologia da palavra, um chato, não sabe nada, - arrematou com uma certeza- este homem nunca soube o que é ganhar dinheiro. Por isso não tolero palavras, eu gosto de quem faz, porque as palavras se perdem, mas a ação não.”
Na avalanche de estultices, me controlei, apenas argumentei com o banqueiro se ele não concebia haver neste mundo pessoas que tivesse outras tantas preocupações e interesses capazes de serem mais sedutores que apenas ganhar dinheiro, e se as palavras fossem este vazio, e todos assim acreditassem o que seria da nossa civilização? Um punhado de homens e mulheres incapazes de acumular saberes pelo simples fato de não fazerem o registro de tudo o que aprenderam durante a vida. Argumentei para não ser respondido, afinal, que era eu para aquele homem? Um  nada ou quase nada.
Carlos Fuentes foi sendo execrado com todos os intelectuais, em uma torrente de petulância ignorante e associado a descabida pretensão do banqueiro do alto da sua superior capacidade de saber o que é á vida e como trata-la.
O grande escritor morreu ontem, quinze de maio, deixou um legado imenso para a humanidade, e este perdurará por séculos a fio, Fuentes será lido e relido por gerações e gerações para saber quem foram os mexicanos do século XX, e os homens e mulheres latino-americanos, para saber como pensavam os homens de um tempo passado, de um tempo importante para a formação de uma nação, uma identidade e uma cultura. Envolto na maestria lírica das palavras e em um profundo conhecimento de si e do seu tempo nos legou maravilhas a quem puder entender. E o banqueiro é idiota demais para saber do que estou falando.
Quanto ao banqueiro eu não faço ideia do que aconteceu, mas quando se for vai deixar que legado? Um testamento bem redigido, e um punhado de coisas efêmeras, dinheiro, carros, casas enfim coisas efêmeras do mesmo jeito que ele tolamente acreditava serem as palavras, eternas palavras.

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