sábado, 26 de fevereiro de 2011

ROMEU E JULIETA


         Nada melhor na vida do que se apaixonar, nada melhor, e quando se é adolescente, é melhor ainda. Descobre-se a si, e ao mesmo tempo o outro se mostra para nós, disponibilizando a alma e principalmente o corpo.
         Desconheço, porém, momento de maior angústia e medo para os pais do que este. Nada se compara a ele, são tantas as razões deste mal estar que apenas arrolo as que acredito são as principais; primeiro: pai e mãe constatam que estão envelhecendo, vislumbrar a maturidade dos filhos é se perceber perto da velhice; segundo: nada ou quase se consegue fazer para se demover um filho/a adolescente de um “grande amor”; terceiro: via de regra, e o que afirmo não vale para todos, se detesta a figura amada pelos nossos filhos por ver nele um concorrente ao incondicional do amor de pai e mãe.
         Se a vida madura deve ser pautada pelo equilíbrio e bom senso, mesmo quando se ama, a adolescência é o lugar do desequilíbrio saudável e da irracionalidade quando se fala de amor, porque neste momento da vida tudo é tão intenso, tudo é tão pleno de sentido que nada parece escapar, tudo, e principalmente o amor precisa ser vivido intensamente, sem rodeios, sem restrições.
         A intensidade que cerca a adolescência é a mesma que produz um estado de onipotência e onisciência nela, na qual tudo precisa e deve ser vivido de forma irremediavelmente humana, com todos os riscos, com todas as felicidades e com todas as dores. Ao se sentir onisciente, o adolescente também se sente incapaz de ser derrotado ou maculado em seu corpo e em sua alma. Evidente também que são estes estados não de permanência, mas presentes na condição adolescente o que geram conflitos internos e com aqueles que estão próximos.
         Viver conflitos é em nosso entender o melhor que pode haver na juventude, enfrentar pai e mãe garante a formação do caráter e estreita os laços entre pais e filhos, e o melhor lugar para se travar este combate é quando se fala de amor. Jovens de 16, 17, 18 anos não toleram que seus pais possam influir na sua vida afetiva, amar é uma condição íntima, mais, muito mais que privada, pois só ao que ama e ao ser amado cabe compreender e julgar. Isto, porém não é verdade para pais e mães. Querer influenciar os filhos, estabelecer juízos de valor e juízos morais sobre os namorados/as é algo incontrolável, porém é fonte de grandes conflitos e acabam servindo como linhas demarcadoras de passagem para a vida adulta.
         Pensamos aqui naqueles namoros que se prolongam no tempo, que ocupam telefones por tempos a fio, que boicotam viagens e reuniões familiares e que constrangem os pais ao querer franquear quartos e aposentos para o amado/a na casa da família.
         Rapidamente a vida de pai e mãe acabará engolfada pela mais terrível das evidências, pouco se pode fazer para mudar o coração dos filhos, o amor incondicional paterno/materno é frágil diante da paixão arrebatadora, posta em uma condição que nós adultos bem conhecemos, pois não podemos e não temos instrumentos para lutar contra.
         A percepção do amor sentido e vivido pelos filhos é sempre motivo de culpa para os pais todas as vezes que algo der errado, a verdadeira paternidade/maternidade sente-se responsável pela dor sofrida pelos filhos, mesmo que sejam estas dores parte daquilo que irá edificar a vida madura.
         O encontro entre dois amantes, como Romeu e Julieta, quando mediatizado por um terceiro acaba sempre sendo trágico, produto de sofrimento e dor, porque o amor, especialmente quando é ele uma descoberta, não pode ser dividido, explicado ou entendido por qualquer outro, somente por quem ama e é amado. Além do diálogo intenso e sincero entre pais e filhos apaixonados, no qual a nossa experiência se torna atributo e virtude e os filhos cúmplices confidentes de nós, pouco ou nada podemos fazer, afinal quem de nós acredita que proibir um namoro, trancafiar um filho/a em casa ou mandá-lo para longe, fará seu coração esquecer engana-se, ou porque não sabe mais o que é amar, ou porque não conhece mais seu filho/ª.

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