sexta-feira, 11 de março de 2011

A Alegria do Ócio


         Por que os filhos crescem? Para que nós, pais, possamos saber que estamos envelhecendo. E se alguns de nós lutamos para não querer ter ciência desta obviedade, tudo parece ficar muito claro quando o filho termina a sua vida escolar.
         O fim da escola para os adolescentes é a ante-sala da vida adulta, a preparação para um mundo novo e permanente, no qual se exige, entre tantas outras coisas, responsabilidade e capacidade de tomar decisões.
         E é neste momento que garotas e garotos são “obrigados” a escolher o que desejarão fazer pelo resto de suas vidas! A pergunta que mais se ouve é: “o que você vai fazer agora?” O que significa perguntar aos filhos da classe média para que carreira irão prestar vestibular.
         A maioria dos pais não pergunta a si e aos seus filhos se eles são maduros o suficiente para escolherem algo que implicará de forma tão decisiva em seu futuro, e creio que esta pergunta não é feita porque tanto pai como mãe tem um medo profundo de ouvir um sonoro NÃO SEI!
         Seria razoável imaginar que depois de anos de escolaridade, mas ainda com 16, 17 anos, houvesseclareza suficiente para se saber ao certo o que fazer pelo resto da vida, mas isto não ocorre na maioria das famílias, e na própria escola, que passa pelo menos três anos condicionando o mantra, vestibular, em todos os adolescentes.
         Como educador e como pai eu não espero que os adolescentes saibam ao final da escola o que fazer, por sinal gostaria imensamente que a maioria deles não soubesse mesmo o que fazer da vida e descobrisse que o ócio, assim como fala o sociólogo italiano Domenico de Masi, um deleite inteligente, pode ser tão útil como a vida ocupada que a família e a sociedade pretendem nos oferecer.
         Em muitos países, ao final do ciclo escolar, as famílias e a própria escola estimulam os jovens a viajar, a viver novas experiências que ajudem a revelar do que é feita a vida adulta, pois estes jovens saem para conhecer novos lugares, novas culturas e para se manter viajando por seis, oito, doze meses, precisam trabalhar em pequenas funções temporárias.
         Descobrir do que é feito este mundo e as pessoas que nele habitam desmistifica a ingenuidade e põe a mostra como o mundo adulto lida com a sobrevivência. Ao invés de ficar horas a fio relendo fórmulas e regras gramaticais, os jovens quando saem de casa por um tempo aprendem, assim como na escola, as fórmulas e regras que regem a vida cotidiana. Aprender novas línguas, conhecer diferentes culturas, fazer contas para comer, para se locomover, negociar com o outro, enfim, algumas aulas de vida.
         Os pais hoje tem o temor que seus filhos cresçam,  tratam seus filhos em um complexo de medo, proteção e omissão. Medo do mundo exterior e das variadas ofertas propiciadas a ele. Uma proteção excessiva na qual se deseja que os filhos passem mais tempo na casa dos pais, cada vez menos se estimula que eles saiam de casa antes do casamento. E a contradição da omissão em meio à proteção, a omissão na verdade se dá reforçando o caráter individualista apregoado pela sociedade, no afã de garantir um sujeito cada vez mais narcisista.
         O ócio ao invés de se tornar algo alegre neste contexto, se torna parte do medo familiar, pensar que um filho não saiba ao certo o que fazer, como fazer e porque fazer da vida ao final da escola impõe aos pais uma sensação de fracasso e medo sobre o futuro, quando em verdade o futuro pertence, e é, uma construção dos filhos e não dos pais. O medo e a proteção desmedida impedem que os filhos possam correr os riscos necessários, que possam aprender para muito além da família e da escola. Aprender por sua conta e risco, aprender com o mundo que o rodeia.
         A classe média  não consegue se libertar da sanha do Brasil Imperial de ter um filho doutor a qualquer custo, e haja pressão sobre os filhos para serem alguém na vida, e haja cobrança para fazer vestibular, seja lá para o que for, mas que se faça, nada de pensar em alternativas, nada de pensar em um tempo de ociosidade, nada disso, o tempo urge, é preciso fazer algo, não importa o que, mas faça! Afinal estamos aqui para quê? Para ganhar dinheiro e só, ou também para sermos felizes? Alguma vez você, como pai e mãe,  perguntou isto ao seu filho?

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