segunda-feira, 14 de março de 2011

Tolstói, Cortázar e Nós


Em Anna Karênina Tolstói afirma, Todas as famílias felizes se parecem, cada família infeliz é infeliz à sua maneira.  Em tempos tão confusos e conturbados, pais e mães correm e apontam para todos os lados para saber como educar seus filhos, e assim, como tudo neste mundo regido pelo capital, educar é um negócio, e tem custos, há manuais e especialistas para ensinar a ser pai e mãe.
Em verdade não são nem os custos e nem os especialistas que são o problema, até porque somos livres para gastar e prover a vida como bem desejamos ou como bem podemos fazê-lo, o problema na verdade é querer encontrar respostas ou caminhos para aquilo que na verdade está não fora de nós, mas sim dentro de nós. Explico.
A paternidade e a maternidade planejada, ou não, requer e exige de cada homem e de cada mulher uma reflexão profunda e séria, os filhos não são um projeto, ou um ser sob o qual se possa  depositar expectativas, vontades e desejos que somente a nós pertencem. A primeira coisa que escapa aos pais é que seus filhos são humanos e assim eles vivem assim eles serão para todo o sempre, desta forma, filhos que erram filhos que não aprendem, filhos que brigam, não são nada além de humanas pessoas, sujeitos normais.
A infelicidade e a insegurança da qual se revestem a paternidade e maternidade hoje, se assemelham mais a incapacidade manifesta de alguns pais e algumas mães em reconhecer que a educação dos filhos demanda um quê de preceitos, um tanto em desuso em nossas vidas, algo como bom senso e equilíbrio; esses, quando dosados a uma vida com rotinas e valores claros facilitam um tanto o caminho que nos leva em direção à felicidade de se ter uma boa família, e isto está dentro de cada um nós.
Por razões que não caberiam aqui neste artigo discutir, os pais começaram a acreditar que para fora do corpo familiar se poderia encontrar mais que aliados da família, os pais buscaram na escola um cúmplice dos seus projetos e da educação de seus filhos, quando na verdade nada pode  substituir pai e mãe na educação dos filhos, nada pode valer mais que a presença viva e intensa de sujeitos capazes de responderem pela sua prole.
A infelicidade da qual fala Tolstói é particular porque a dor sempre parece ser única, somente nossa, enquanto a felicidade se apresenta como um bem universalizado, tendo em comum amor e devoção dosados pelo bom senso. A infelicidade tem ao menos algo que é igual em todas as famílias, a sensação profunda de uma ingratidão dos filhos para com os pais, porque todos os pais, sem exceção, diante da infelicidade familiar tomam para si a certeza da ingratidão dos filhos.
Como afirmou Julio Cortázar, os filhos não são ingratos, eles apenas retribuem o que nós, como pais, oferecemos a eles, se formos omissos teremos deles silêncio, se dermos uma proteção desmedida, teremos em retribuição filhos que errarão mais, se damos um amor incondicional e cego em troca teremos um sujeito cego de responsabilidade.
A infelicidade de Tolstoi na família não é diferente da ingratidão atestada por Cortázar, elas são parte de um mesmo todo, pois não basta ter amor ou vontade para ser pai e mãe, é preciso algo mais e maior, é preciso ser adulto o suficiente para transformar a continuação de nós, a parte mais fina de nós em sujeitos, em seres humanizados e neste ponto não são instintos que podem nos guiar ou ajudar, mas, somente a maturidade crítica que nos distingue de todos os demais seres, pois buscamos, ou assim deveríamos buscar educar para formar sujeitos que tenham na bondade o seu princípio e seu fim.

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