segunda-feira, 21 de março de 2011

Auto-Engano e a Banalização do Mal



         A sociedade brasileira se notabiliza pelo auto-engano, a capacidade coletiva e consciente de se acreditar o que de fato não é. No último século este país foi louvado por ter um povo pacífico, um lugar sem guerras no qual o caráter nacional era antes de tudo generoso. Tal “verdade” servia bem aos propósitos de um Estado autoritário que tinha como fim negar a cidadania a sua maioria.
         Hoje tal discurso parece mesmo objeto ideológico, um verdadeiro auto-engano, pois vivemos acercados pelo medo, pela certeza que os nossos concidadãos são bárbaros a espreita, prontos a nos trucidar a primeira chance, pelas razões mais insignificantes, um tênis, um relógio, um punhado de trocados.
         Fato é, e ninguém nega, que esta é uma sociedade violenta, muito violenta no qual a vida vale pouco ou nada, a tal ponto que banalizamos o mal e suas conseqüências entre nós. No limite, todos acreditam que boa parte dos nossos problemas são partes constitutivas de nós, ou melhor, de nossa sociedade.
         Esta crença reforça um novo auto-engano, de pior e a mais grave conseqüência para todos, qual seja: queremos reformar a lei, o aparato legal sem antes levarmos em conta os seguintes pontos, objeto central de todo auto-engano que hoje vivemos.
         Primeiro: a polícia no Brasil, para além de ser militarizada é uma instituição desacreditada, a maioria da população a vê, como instrumento da barbárie e não como parte legítima na defesa do cidadão.
         Segundo: as prisões são administradas pelo crime e não pelo Estado, assim sendo apenas se transfere a gestão do mal, para um espaço seguro que é o cárcere e não as ruas.
         Terceiro: ressuscitamos o esquadrão da morte, agora disfarçada de milícia urbana, que serve como ante-sala para o fim do estado de direito na sociedade, já que cidadãos comuns se armam e assumem funções de delegação pública.
         Quarto: o sistema judiciário, não precisa de leis, precisa ser confiável, ágil e responsável.
         Quinto: Auto-Engano é acreditar que se não atacarmos estes quatro pontos elementares, um punhado de novas leis, sejam elas de que tipo for, da redução da menoridade penal á adoção da pena capital nossos problemas serão resolvidos ou minimizados.
         Por fim, é sempre bom lembrar que sociedades que se regulam por processos conscientes de auto-engano, em algum momento acabam se esfacelando, mais que um tecido social frágil, fica-se querendo atacar os efeitos e nunca as causas. O auto-engano produz a desesperança por mover uma sociedade na direção errada, na qual as responsabilidades, os deveres e a consciência são sempre problema ou pertencem a outro, e nunca si.

Um comentário:

  1. "Se a gente quiser modificar alguma coisa, é pelas crianças que devemos começar."(Ayrton Senna)

    ResponderExcluir