segunda-feira, 19 de setembro de 2011

Classificando a Mediocridade


Nos últimos anos me habituei a ficar irritado todas as vezes que saem publicadas as notas do ENEM e, por conseguinte, a classificação de todas as escolas brasileiras, as melhores, as mais ou menos, as piores e as horríveis.
Historicamente a escola brasileira nunca foi de fato avaliada, esta coisa de se ter uma prova de referência para nortear o final da vida escolar é, a bem da verdade uma grande novidade para nós, cabe perguntar se isto é bom para a nossa escola e a sociedade.
Para ser direto e honesto, sim, é muito bom se ter provas de aferição para medir o rendimento dos alunos e das instituições, por outro lado é deplorável o hábito de se fazer ranking das coisas, esta coisa de gringo, de norte-americano, os dez melhores isto, os cem melhores aquilo, é só abrir revistas e jornais dos Estados Unidos para vermos como eles adoram estas coisas, me questiono para saber se temos esta cultura competitiva e doentia com o ganhar sempre.
Se a prova é boa, mesmo com todas as suas limitações, por exemplo, literatura esta fora desta avaliação, o que, no meu entender, é um erro gravíssimo, compor um ranking é um equívoco. Explico, quem vive escola e sabe como se dão os processos em seu cotidiano sabe ser quase impossível se manter padrões de qualidade altíssimos quando se lida com gente  e mais particularmente com adolescentes.
Para que uma escola encontre um alto nível de excelência a primeira medida a ser tomada é ser seletiva, ou seja, ao invés de agregar o aluno com mais dificuldades, ela deve excluir, os seres humanos que possuem fragilidades e limitações, entendidas aqui alunos com dificuldade em alguma área do conhecimento. A exceção apenas confirma a regra, para se chegar ao último ano do ensino médio com alunos de alto rendimento e com um nível mínimo de dificuldade de aprendizagem em alguma área é preciso selecionar, ir paulatinamente excluindo aqueles que não acompanham o ritmo imposto pela escola.
Esta é uma prática conhecida, desde os anos 1970, uma famosa escola paulistana, que á época possuía apenas o ensino médio despachava os alunos que reprovavam no primeiro ano do segmento, ofereciam até a opção de uma escola mais fraca para estes alunos, com isso mantinham da fama de melhor escola paulistana, tendo como referência o vestibular da Universidade de São Paulo.
Existem muitos tipos de escola, com muitos tipos de alunos, acreditar que é possível manter um alto nível de excelência sem ser excludente é desconhecer como se faz educação, com isto não estamos legitimando a mediocridade e a falta de educação, não mesmo, o que defendemos é que o mesmo poder público que impõe e valida as provas crie efetivamente faixas de excelência e de qualidade, assim como aponte para aquelas escolas que necessitam de apoio e atenção em todos os sentidos.
Em um escala de mil pontos, como o ENEM, o que podemos considerar como sendo uma boa escola? Creio ser esta a questão central e não sabermos que no Piauí, segundo estado mais pobre da federação as elites tem duas escolas “maravilhosas”, acompanhadas de cinquenta escolas miseráveis. É preciso que o poder público tenha a ousadia de propor algo melhor e mais inteligente para que a sociedade saiba o que é uma escola boa ou não, independente de ranking, e das escalas de valores produzidos por donos de escolas e pela mídia não especializada.

Um comentário:

  1. Dante, me sinto como você em relação à divulgação das notas do ENEM e da importância que é dada ao ranqueamento das escolas, mas me sinto pior ainda em relação ao SOLETRANDO do Caldeirão do Huck.
    Há escolas que tomam isso como parte do projeto pedagógico.
    QUE LÓGICA DEPLORÁVEL! OS ALUNOS APRENDEM A SOLETRAR AS PALAVRAS, MAS NÃO SABEM SEQUER SEU SIGNIFICADO OU SUA APLICAÇÃO EM UMA FRASE.
    Será que conseguimos melhorar a educação? Quando e como isso acontecerá?

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