sexta-feira, 4 de março de 2011

QUASE NADA, APENAS ATITUDE

A chegada do carnaval sempre traz à baila a forma como a TV aborda a festa e no que se transformou na manifestação pagã mais importante da vida cultural brasileira. De forma geral com a liberação dos costumes o carnaval acaba servindo, ao menos no centro sul do país, para revelar corpos e elevar o grau de erotismo a pontos inimagináveis em outras culturas.
         Em verdade está, digamos, aceitação da erotização extremada do carnaval se coaduna com outras manifestações que compõe a nossa vida “cultural” no decorrer do ano. Com uma abundância de grupos musicais altamente sensuais, que nascem e morrem com incrível rapidez, nos “acostumamos” a ver corpos adultos e bem formados impondo gestos e insinuando atos enquanto repetem refrões maliciosos em harmonias musicais empobrecidas.
         Curiosamente estes grupos acabam tendo uma grande influência sobre o público infantil, e o que se vê são meninas, principalmente meninas, repetindo gestos e trejeitos em uma agressão a sua própria condição infantil, afinal crianças, meninas de 9, 10, 11 anos ou até menos, são sujeitos em formação seja no seu caráter seja na sua psique, e são incapazes de dimensionar a vulgaridade quando disfarçada em estética ou objeto cultural.
         Quando chega o carnaval, como uma síntese do ano, somos brindados com sinopses deste movimento erótico extremado, a própria sociedade incorporou isto como normal. A maior anomalia não são as crianças que desfilam nas escolas, que enclausuradas em suas alas mal sabendo o que acontece metros à frente, muito pior são aquelas cenas selecionadas pela TV em desfiles e bailes, fazendo crer que o carnaval é o encontro de certa estética minimalista com o desejo sexual.
         Se nos permitimos ter manifestações culturais como esta é por ser parte de nós e da nossa identidade, a TV faz as suas escolhas sustentadas nas suas expectativas comerciais, assim como as gravadoras que nos impõe seus grupos com suas coreografias. Pensar em responsabilidade social ou educativa é tolice, tudo se dá antes de qualquer coisa como uma necessidade comercial.
         Os meios de comunicação de massa transformam tudo em entretenimento, acreditar que tenham preocupação com questões da erotização e sua influência sobre a formação e a educação das crianças é fantasiar a realidade. Creio sim, que o grande problema está na família, pai e mãe omissos incapacitados de dizer não para seus filhos: “não vai assistir este programa!” não vou comprar tal CD!” e assim por diante, estabelecendo claramente o que desejam para formação de seus filhos.
         Colocar sobre os meios de comunicação de massa  toda a responsabilidade sobre erotização do carnaval e outras manifestações culturais, apenas referenda que a família é impotente e/ou incompetente para dizer aos seus membros , em especial seus filhos, o que ver e ouvir.
         Em uma grande inversão de valores, os pais acorrem a escola onde estudam seus filhos com as queixas mais descabidas e as demandas mais protetoras, na proporção inversa que abandonam seus filhos diante dos meios de comunicação de massa com enorme passividade e indiferença.
         Se as classes sociais mais pobres foram privadas da escola, e, portanto parecem mais disponíveis as manipulações da TV, até por terem nela um dos seus únicos meios de lazer, as classes médias disponibilizam seus filhos muito mais pelo silêncio e a cegueira, pelo não saber ao certo o que vêem e ouvem, do que por outra razão. Ao desejar que a televisão e os demais meios de comunicação se tornem menos erotizados, mais educativos e menos apelativos é preciso que haja reciprocidade do outro lado, que aquele que liga a TV ou compra um CD saiba exatamente o que deseja oferecer como objeto cultural aos seus filhos.
         É quase nada, uma mera questão de atitude dos pais saberem que tipo de educação quer eles oferecer aos seus filhos, é quase nada. 

Um comentário:

  1. Pois é, meu caro.
    Pior é quando a escola não está dotada de senso crítico para trabalhar essa questão com as crianças, seja por não perceber tais questões ou percebendo porém tratando de forma moralista.
    Retomando um de seus posts mais antigos, o professor é uma classe desvalorizada e que por conseguinte desvaloriza a si próprio. Quando vemos educadores participando dessa roda viva, assumindo o discurso de massa veiculado pela TV aberta e mídia em geral como seu próprio discurso, é de se preocupar.
    Salvei seu blog nos favoritos e comunico que também sou blogueiro. Um tanto relapso nas atualizações, é verdade, mas tento manter dois blogs:
    http://rosselini.blogspot.com
    http://ddclasse.blogspot.com
    Um abraço,
    Rosselini.

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